Um bom nível de aprendizagem vai além de bons professores, bom nível de material didático e engajamento dos alunos. Ambientes adequados, que contam com o estímulo do verde, ou seja, um dos princípios do design biofílico, fazem enorme diferença nos processos de evolução de crianças e adolescentes dentro das escolas
Estar perto da natureza é o que a nossa essência mais deseja. A ideia de design biofílico, inclusive, gira em torno desse conceito, da necessidade de estarmos conectados com os elementos naturais, que só traz coisas boas a todos nós, seres humanos. A vida moderna, porém, de um jeito ou se outro, nos afastou do contato maior com o verde no dia a dia. Esse, portanto, é o desafio do design biofílico: levar a natureza até nós.
Essa necessidade de identificar e interagir com a natureza não deve ser privilégio apenas de adultos. As crianças podem (e devem) ter essa relação próxima com variados tipos de vegetação e elementos que, de alguma forma, os conectem com a pureza da natureza. Até porque as crianças possuem uma capacidade única de permanecer no momento presente e apreciar as sutilezas que os adultos nem sempre conseguem notar.
Segundo a Teoria do Desenvolvimento Cognitivo, a identidade que uma criança se estabelece por completo fica em torno de sete anos de idade. É aí que as crianças começam a notar sua independência e, assim, observam com mais atenção seu mundo ao redor. E buscam nos pais e nos professores o conhecimento que precisam. Nesse contexto, o ambiente faz toda a diferença na vida das crianças.
É por esse motivo que as instalações escolares devem ser ambientes acolhedores, que garantam o desenvolvimento integral do indivíduo, promovendo o completo bem-estar.
Ambientes educacionais cada vez mais verdes
Hoje, existe a associação clara entre estar presente na natureza e desfrutar de boa saúde. Um relatório recente, que juntou dados de 290 milhões de pessoas em 140 estudos de mais de 20 países, ilustra isso.
O estudo analisou a saúde de pessoas que passaram algum tempo nos espaços naturais e pessoas que não o fizeram. Os que tinham acesso a esses espaços, apresentaram diminuição na pressão arterial, na frequência cardíaca e no estresse, enquanto o tempo do sono aumentou.
Outros dados reforçam esse conceito ainda pouco difundido no Brasil. Por exemplo, um estudo da Sociedade Americana de Ciências Horticulturais fez um comparativo da avaliação dada pelos alunos em duas salas de aula iguais. A única diferença era que uma incluía plantas tropicais, enquanto a outra não tinha nenhum tipo de vegetação. Os aprendizes que estavam perto das plantas avaliaram não só o curso como o professor de forma bem mais favorável do que a outra turma. Além disso, afirmaram que se sentiam mais envolvidos.
Já um estudo do ensino fundamental e médio descobriu que 20 a 26% dos estudantes aprendiam mais rápido em espaços que com luz solar. Além disso, os resultados dos testes aumentavam de 5% a 14%. O mesmo estudo constatou que os resultados dos testes dos alunos caíram 17% ao aprender nas salas de aula sem exposição direta à luz solar.
Quando os alunos se sentem bem, suas capacidades acadêmicas e desempenho melhoram. O bem-estar está intrinsecamente ligado à produtividade e ao sucesso.
Tem mais: as salas de aula que incorporam elementos de design biofílico contribuem para maior frequência dos alunos, maior criatividade, comportamento mais adequado, estresse reduzido e maior foco nas atividades.
As possibilidades do design biofilíco nos espaços de educação
Stephen Kellert, professor da Universidade de Yale, líder no campo do design biofílico e autor de vários livros sobre o assunto, aponta três maneiras de experimentar a natureza no ambiente construído.
São eles:
Experiência direta na natureza, Luz natural, ar fresco, água e plantas;
Experiência indireta Uso de materiais naturais, geometrias naturais e imagens da natureza;
Experiência de espaço e lugar
Uso dos princípios como perspectiva e refúgio e espaços de transição claros e discerníveis. Ou seja, sempre é possível agir nessa direção.
Uma vez compreendida a importância da escola levar em consideração um projeto de design biofílico, o primeiro passo seria a implementação de componentes menores e mais modestos, como garantir que todas as vistas da natureza sejam utilizadas, abrindo janelas ou persianas com vista para os espaços verdes.
Outro ponto importante é deixar expostas fontes de água, além de privilegiar a ventilação natural, que também reforçam a sensação de conexão com a natureza. Os espaços podem ainda ser equipados com vegetação variadas, como plantas de pequeno e médio portes em lugares estratégicos, permitindo maior contato com os ocupantes.
Agora, se o espaço não é favorável à possibilidade de interação direta com a natureza, uma experiência indireta pode ser um caminho. Imagens fotográficas que remetem ao verde, além do uso de materiais, cores e padrões naturais fazem diferença aos alunos. As escolas podem optar por produtos que imitam a aparência de madeira ou pedra, ou utilizar plantas preservadas ou artificiais em lugares mais fechados e com pouco incidência de luz natural. Os tons da terra também podem ser incorporados ao espaço para simular a natureza.
Por meio da implementação desses elementos, as instituições escolares se posicionam como precursoras na ambientação de espaços que promovem o bem-estar, a qualidade de vida, e que contribuem para o desenvolvimento pleno dos seres humanos, que passam a explorar e integrar seus arredores.
Quando se fala em arquitetura escolar, é sempre bom lembrar das teorias de Michel Foucault (1926-1984), que descreveu as escolas como espaços de controle, semelhantes a ambientes rígidos, como prisões e quartéis.
Nos tempos atuais, essa ideia está muito distante do que pede uma educação moderna e de qualidade, que aponta na direção da participação constante, alegria, convivência entre as pessoas diferentes e vida em sociedade plena, próxima à natureza.
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